Usar as ferramentas da educação patrimonial para estimular a participação das comunidades, naquilo que Hannah Arendt chamou a ontologia política da comunidade, exige estar atento aos processos em jogo no espaço e no tempo, ao papel dos atores e das diferentes organizações.
O campo da memória histórica do Estado é por isso um espaço de análise relevante para entender os pontos de convergência e rutura. De convergência porque a partir dos diferentes posicionamentos dos atores e das instituições onde atuam, é possível analisar a produção de narrativas hegemónicas; ao mesmo tempo, que os processos de emancipação tendem a valorizar as narrativas produzidas por grupos subalternos que procuram afirma os seus direitos à memória histórica, podendo constitui-se como pontos de rutura, a partir dos quais se pode reconstruir novas memórias hegemónicas, respeitando a diversidade cultural, ou, mantendo a negação das alternativas emergentes, mantendo-se portanto a tensão em velhas querelas, sem que surge inovação narrativa.
Neste último caso estamos perante memórias bloqueadas.
Como evitar essa armadilha de esterilidade?
Algumas
respostas tem vindo a ser propostas, tais como desenvolver procedimentos metodológicos
dialógicos. Isso implica, por exemplo, que os trabalhos nas comunidades deixem
de ser feitos a partir das perspetivas metodológicas “hegemónicas” dos especialistas.
É necessário criar pontes e conectar diferentes universos interpretativos.
Uma das
questões que tem vindo a ser colocada com os trabalhos das comunidades é a perceção
do seu pluriverso[1]
interpretativo em torno da compreensão dos conflitos e dos processos sociais.
[1] A pluriversalidade é uma proposta epistémica centrada na diversidade do mundo e que se contrapões ao modelo “universalista” eurocêntrico, tomado como hegemónico pelos processo de globalização.
Por pluriversidade é um processo de produção de conhecimento aberto à diversidade epistêmica, que não nega necessariamente a ideia do conhecimento universal, mas que tem que ser produzido através duma estratégia horizontal, construída no diálogo entre diferentes tradições epistêmicas. Descolonizar a universidade é, portanto, reformá-la com o objetivo de criar um pluriversalismo cosmopolita crítico menos monoprodutor de práticas hegemónicas e que envolve a refundação radical de nossos modos de pensar e a transcendência de nossas divisões disciplinares.